Há quem diga: “Paulo fez uma enorme quantidade de trabalho, arcou com grandes responsabilidades pelas igrejas e contribuiu muito para elas. As treze epístolas de Paulo sustentaram 2.000 anos da Era da Graça e são superadas apenas pelos Quatro Evangelhos. Quem pode igualar-se a ele? Ninguém consegue decifrar o Apocalipse de João, ao passo que as epístolas de Paulo fornecem vida, e o trabalho que ele fez foi benéfico para as igrejas. Quem mais poderia ter conseguido tais coisas? E qual o trabalho que Pedro fez?” Quando o homem avalia outros, é de acordo com a contribuição deles. Quando Deus avalia o homem, é de acordo com a sua natureza. Entre aqueles que buscam vida, Paulo foi alguém que não conhecia sua própria essência. Não era humilde nem obediente de modo algum e também não conhecia a sua substância, que era oposta a Deus. Logo, ele foi alguém que não passara por experiências detalhadas, foi alguém que não pôs a verdade em prática. Pedro era diferente. Ciente de suas imperfeições, suas fraquezas e seu caráter corrupto como criatura de Deus, ele seguiu uma senda de prática, por meio da qual mudou o seu caráter; não foi um daqueles que só tinham doutrina, mas não possuíam realidade alguma. Aqueles que mudam são pessoas novas que foram salvas, são aqueles qualificados na busca da verdade. As Pessoas que não mudam pertencem àquelas que são naturalmente obsoletas; são aquelas que não foram salvas, isto é, aquelas que Deus detestou e rejeitou. Elas não serão celebradas por Deus, por maior que seja o seu trabalho. Quando comparar esta busca com a sua, você verá claramente se é, em última instância, uma pessoa do tipo de Pedro ou de Paulo. Se ainda não houver verdade no que você procura e se ainda hoje você for tão arrogante e insolente quanto Paulo, e de engrandecer a si mesmo de forma tão descarada quanto ele, você é sem dúvida um degenerado que fracassa. Se você procura o mesmo que Pedro, se procura práticas e mudanças verdadeiras, se não é arrogante nem voluntarioso, mas procura cumprir seu dever, você será uma criatura de Deus capaz de alcançar a vitória. Paulo não tinha ciência de sua própria substância nem de sua corrupção, muito menos da sua desobediência. Ele nunca mencionou a sua vil provocação a Cristo nem se arrependeu demais. Limitou-se a dar uma breve explicação e, bem no fundo de seu coração, não se entregou a Deus inteiramente. Apesar de ter caído na estrada para Damasco, ele não olhou fundo dentro de si mesmo. Contentou-se com continuar a trabalhar e não considerou que conhecer a si mesmo e mudar o seu antigo caráter fossem as questões mais importantes. Sentia-se satisfeito simplesmente com dizer a verdade, atender às necessidades de outrem para acalmar a sua consciência e não mais perseguir os discípulos de Jesus, para consolar-se e se perdoar por seus pecados anteriores. O objetivo a que ele visava era somente uma coroa no futuro e trabalho temporário, seu objetivo era graça em abundância. Não buscava verdade suficiente nem buscava aprofundar-se na verdade que não compreendera anteriormente. Portanto, pode-se dizer que seu conhecimento de si mesmo era falso, além de ele não aceitar castigo nem julgamento. O fato de ser capaz de trabalhar não implica que ele tivesse conhecimento de sua natureza ou sua substância; ele só se dedicava a práticas superficiais. Além disso, seus esforços não visavam à mudança, mas ao conhecimento. Seu trabalho todo era o resultado da aparição de Jesus na estrada para Damasco. Não era algo que ele resolvera fazer no início nem era um trabalho que se apresentara depois de ele ter aceitado a poda em seu antigo caráter. Como quer que ele tenha trabalhado, seu antigo caráter não mudou e, assim, seu trabalho não expiou seus pecados anteriores, mas apenas desempenhou certo papel entre as igrejas da época. Pois tratando-se de alguém cujo antigo caráter não mudou, isto é, alguém que não ganhou a salvação e, sobretudo, que estava sem a verdade, ele era absolutamente incapaz de se tornar um daqueles aceitos pelo Senhor Jesus. Não era alguém cheio de amor e reverência a Jesus Cristo, nem capacitado para buscar a verdade, muito menos alguém que buscasse o mistério da encarnação. Era meramente alguém hábil em sofística, alguém que não prestaria obediência a ninguém que fosse superior a ele ou possuidor da verdade. Paulo invejava pessoas ou verdades que contrastassem ou antagonizassem com ele, preferindo pessoas dotadas que apresentassem uma imagem eminente e possuíssem conhecimento profundo. Não gostava de interagir com gente pobre que buscava o verdadeiro caminho e só se interessava pela verdade; em lugar disso, ocupava-se de figuras de elevada hierarquia em organizações religiosas, pessoas que só falavam em doutrinas e eram possuidoras de vasto conhecimento. Não tinha amor pela nova obra do Espírito Santo e não se importava com o movimento da nova obra do Espírito Santo. Em lugar disso, ele favorecia as normas e doutrinas que estavam em nível superior ao de verdades gerais. Em sua essência inata e na totalidade do que perseguia, ele não merece ser chamado de cristão que busca a verdade, muito menos de servo fiel na casa de Deus, pois sua hipocrisia era muita e sua desobediência era grande demais. Embora conhecido como servo do Senhor Jesus, ele não foi de modo algum digno de entrar pela porta do reino dos céus, uma vez que suas ações, do princípio ao fim, não podem ser chamadas de justas. Só pode ser visto como um hipócrita que cometeu injustiças e, contudo, também trabalhou para Cristo. Embora não se possa chamá-lo de mau, é adequado dizer que foi um homem que cometeu injustiças. Trabalhou muito, mas não deve ser julgado com base na quantidade de trabalho que fez, mas apenas com base na qualidade e na substância desse trabalho. Somente assim é possível ir ao cerne desta questão. Ele sempre acreditou: sou capaz de trabalhar; sou melhor que a maioria das pessoas; ninguém tem maior consideração do que eu pelo fardo do Senhor e ninguém se arrepende tão profundamente quanto eu, pois a grande luz brilhou sobre mim, e eu vi a grande luz, por isso meu arrependimento é mais profundo que qualquer outro. Isto era, na época, o que ele pensava no fundo do coração. Ao concluir seu trabalho, Paulo disse: “combati o combate, acabei a carreira, e a coroa de justiça me está guardada”. Sua luta, seu trabalho e seu caminho visaram inteiramente à coroa de justiça, e ele não se empenhou ativamente; apesar de ele não ter sido negligente no seu trabalho, pode-se dizer que o único propósito desse trabalho foi reparar seus erros, expiar as acusações da sua consciência. Ele só desejava terminar seu trabalho, acabar sua carreira e combater seu combate o mais rápido possível, para poder ganhar sua almejada coroa de justiça o quanto antes. Não almejava encontrar o Senhor Jesus, com suas experiências e seu autêntico conhecimento, mas terminar seu trabalho o mais rápido possível para receber as recompensas que ganhara com seu trabalho quando encontrou o Senhor Jesus. Ele usava seu trabalho para confortar-se e para barganhar em troca de uma futura coroa. O que ele procurava não era a verdade nem Deus, mas apenas a coroa. Como pode tal busca ser à altura do padrão? As fantasias maravilhosas de Paulo impregnaram tudo — sua motivação, seu trabalho, o preço que ele pagou e todos os seus esforços — e ele agiu totalmente em conformidade com seus próprios desejos. Em todo o seu trabalho não houve sequer um mínimo de boa vontade no preço que ele pagava — estava fazendo um negócio, mais nada. Ele não se esforçava com disposição no intuito de cumprir o seu dever, mas, sim, no intuito de atingir o objetivo do negócio. Qual o valor de esforços como esses? Quem elogiaria seus esforços impuros? Quem tem algum interesse em tais esforços? O trabalho dele estava cheio de sonhos para o futuro, cheio de planos maravilhosos, mas não incluía senda alguma destinada a mudar o caráter humano. Grande parte de sua benevolência era fingimento; seu trabalho não proporcionava vida, era só imitação de civilidade, era a concretização de um negócio. Como pode um trabalho como esse levar o homem para a senda da recuperação de seu dever original?
A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “O sucesso ou o fracasso dependem da senda que o homem percorre”